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- Jenny Flores
Mulheres latino-americanas abrem caminho a supercomputação na região
Na América Latina e no Caribe, as mulheres têm 1,6 vezes menos probabilidade de desenvolver competências digitais avançadas e ocupam apenas 3 em cada 10 empregos no setor das TIC. Apesar de representar 40% dos graduados em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), sua participação no mercado de trabalho ainda é limitada, segundo dados das Nações Unidas.
Para visibilizar o papel das mulheres na supercomputação e promover sua inclusão no campo científico e tecnológico, foi realizada a palestra virtual Latin American Women in HPC, uma iniciativa que dá seguimento às ações levantadas durante o Workshop Women on HPC da Conferência CARLA2024 (Congresso Latino-Americano de Computação de Alto Rendimento). CARLA é o evento anual da Rede de Computação Avançada da América Latina e Caribe (SCALAC), que reúne a comunidade de computação de alto desempenho na região, impulsionando a colaboração e o desenvolvimento tecnológico. A palestra virtual, organizada em colaboração com RedCLARA, abordou os desafios e oportunidades para as mulheres neste campo.
O evento, moderado por Tania Altamirano, gerente de Relações Acadêmicas da RedCLARA, reuniu mais de 70 participantes e especialistas em HPC da região, como Paola Buitrago (Pittsburgh Supercomputing Center, EUA), Paula Verghelet (Universidade de Buenos Aires, Argentina), Carla Osthoff (Laboratório Nacional de Computação Científica, Brasil), Carmen Heras (Universidad de Sonora, México), Cristina Boeres (Universidad Federal Fluminense, Brasil), Patricia Tissera (Pontificia Universidad Católica de Chile), Aletéia Araújo (Universidade de Brasília, Brasil), Genoveva Vargas-Solar (French National Centre for Scientific Research, França) e Gina Maestre (Universidade de Antioquia, Colômbia).
A palestra começou com duas perguntas-chave: Quantas mulheres líderes de HPC na América Latina você conhece? e como você pode apoiá-las? Apenas 29% dos participantes afirmaram conhecer pelo menos cinco líderes na região. Quanto às estratégias de apoio, a mais destacada foi a visibilidade, seguida da mentoria, educação, financiamento e networking.
Supercomputação com perspectiva de gênero
Para Gina Maestre, os desafios na aplicação de HPC ao desenvolvimento de cidades inteligentes são enormes. Essas cidades usam tecnologia e análise de dados para otimizar serviços urbanos como transporte, energia e segurança. No entanto, Maestre alertou que a falta de perspectiva de gênero nesta área pode perpetuar desigualdades.
"Apenas 20% dos cargos em governança de cidades inteligentes são ocupados por mulheres, e elas raramente são incluídas nas tomadas de decisão sobre infraestrutura digital, mobilidade e segurança", enfatizou.
Maestre também sublinhou a importância de impulsionar a inclusão de meninas e mulheres em STEM, observando que ainda há baixa representação feminina nestas carreiras nas universidades.
"O desafio é impulsionar as meninas e mulheres em STEM e alcançar maior inclusão. Nas universidades ainda há poucos estudantes nessas áreas", afirmou.
Cristina Boeres destacou que, embora em outras regiões tenha havido avanços na equidade de gênero no HPC, na América Latina ainda existem obstáculos que desincentivam a participação feminina. Iniciativas como inclusão Meninas no Brasil, buscam reverter essa situação, fomentando o interesse de meninas e jovens em computação desde a educação básica até a universidade.
A perspectiva feminista em HPC busca que a tecnologia seja usada com transparência e equidade para resolver problemas sociais. Genoveva Vargas-Solar desenvolve um Índice de Justiça que permite avaliar se os centros de dados seguem princípios de equidade e propõe formas mais justas de alocar recursos, por exemplo.
Supercomputação com equilíbrio: ciência, vida e equidade
Conciliar a vida pessoal com uma carreira em supercomputação continua sendo um desafio, e alguns dos palestrantes colocaram isso sobre a mesa. astrofísica Patricia Tissera, especialista em formação de galáxias e líder do projeto CIELO (The Chemo-dynamical properties of galaxies and the cosmic web) uma iniciativa que se concentra no estudo da formação de galáxias no campo, com especial ênfase em suas propriedades químico-dinâmicas e sua interação com a rede cósmica, ele compartilhou sua experiência sobre como é possível se desenvolver na ciência sem renunciar à vida familiar.
Seu trabalho combina HPC e algoritmos avançados para modelar a evolução das galáxias a partir de observações de telescópios terrestres e satélites. Mas, além da tecnologia, Tissera fez um chamado para transformar a cultura do setor, pedindo maior investimento em infraestrutura de HPC, o fortalecimento dos ecossistemas de computação e, acima de tudo, um compromisso real com a equidade na ciência. Enfatizou que conseguir isso não é apenas responsabilidade das mulheres, e que a participação dos homens nos cuidados familiares também é chave para construir um futuro mais igualitário no campo científico.
Outros palestrantes concordaram sobre a importância de inspirar e acompanhar as meninas e jovens para que se juntem ao mundo da supercomputação. Eles enfatizaram que a representação e o acesso às referências femininas são essenciais para mudar a percepção de que HPC é um espaço alheio às mulheres. Entre as estratégias mencionadas para construir um futuro mais inclusivo em ciência e tecnologia, destacaram-se a educação precoce, a criação de redes de mentores e a garantia de condições equitativas no âmbito acadêmico e profissional.
Carmen Heras apontou outro desafio chave: "A matrícula de mulheres em ciência, matemática e engenharia diminui com o tempo. Não é apenas uma tendência, mas o resultado de fatores econômicos, casamento e outros obstáculos que ainda persistem. Devemos continuar incentivando, apoiando e criando oportunidades para que mais mulheres permaneçam e cresçam em STEM. A equidade na ciência é fundamental para inovação e progresso", enfatizou.
Latin American Women in HPC continuará durante o encontro CARLA2025, que será realizado em setembro na Jamaica, fortalecendo a visibilidade e participação das mulheres no setor.
Veja o encontro completo: Latin American Women in HPC